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04 abril, 2012

Filigrana - ourivesaria portuguesa

 
Técnica de ourivesaria que consiste na combinação de delicados e finíssimos fios de ouro (o material privilegiado) ou prata aplicados sobre placas do mesmo metal, desenhando motivos circulares, espiralados ou em SS. Por vezes, estas peças de ourivesaria são complementadas com a decoração de pedras e esmaltes policromos, ou ainda com a aplicação de minúsculas esferas de ouro.
Após a alquímica operação de derreter o ouro, o metal precioso é vertido numa "rilheira", dando-se-lhe a forma de barra, o que permite a sua utilização nos cilindros do "laminador" e a sua transformação em chapa ou fio grosso. O processo de filigranação do metal prossegue numa "fieira", espessa placa de aço crivada de orifícios sucessivamente decrescentes, repuxando-se os fios até se obter a espessura desejada.
Procede-se depois à junção de dois fios com a mesma espessura e efetua-se a sua torção. Estes fios enrolados são passados novamente pelo cilindro, de modo a se proceder ao seu achatamento. Montada na armação e soldada a teia de fios, a peça de filigrana é "branqueada", para, finalmente, se proceder ao seu areamento e à sua brunição.

 

A origem desta arte milenar não está seguramente determinada, sabendo-se apenas que a sua prática era conhecida pelos chineses e indianos, bem como pelas civilizações clássicas da bacia do Mediterrâneo, nomeadamente Grécia e Roma. Os Árabes imprimiram uma notável vitalidade a esta forma artística de ourivesaria, concebendo, a partir da extrema maleabilidade e delicadeza dos filamentos, obras de arte que valorizaram esteticamente o desenho da linha.Contudo, quando estes chegaram à Península, a arte da filigrana era conhecida e trabalhada pelos povos ibéricos. A génese desta arte em Portugal remonta às civilizações pré-romanas que habitaram o nosso território, como o comprova diverso espólio de ourivesaria e joalharia castreja descoberto em estações arqueológicas - nomeadamente três preciosos torques filigranados, provenientes da Póvoa de Lanhoso e em exposição no Museu D. Diogo de Sousa, em Braga.Durante a Idade Média portuguesa, época em que a cidade italiana de Génova se afirmou como o maior centro europeu de filigrana, esta arte preciosa dos metais decorou algumas das melhores alfaias de culto, como são os cálices românicos de D. Gueda Mendes (1152) e de D. Dulce, em prata e apresentando no um admirável trabalho filigranado, ou ainda a soberba Cruz de D. Sancho I, datada de 1214 e oferecida por este monarca ao Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra.No entanto, a moderna arte da filigrana portuguesa evoluiu, essencialmente, a partir de algumas alfaias de culto dos séculos XVII-XVIII, a partir de certos relicários ou cruzes e, igualmente, inspirando-se em peças de joalharia civil, como são as arrecadas ou os brincos. A forma singular da filigrana nacional advém-lhe do seu carácter marcadamente popular, que se vincou ainda mais a partir da segunda metade de Oitocentos.
 

A área geográfica da filigrana é circunscrita, localizando-se os centros produtores de melhor qualidade nos arredores do Porto - no concelho de Gondomar - e em Braga, no concelho da Póvoa de Lanhoso, particularmente na "aldeia do ouro" de Travassos - contando esta povoação, presentemente, com cerca de vinte pequenas oficinas.Tipologicamente, as joias fabricadas, em maior número, pelos centros produtores do Noroeste de Portugal são as de uso pessoal - com destaque para as arrecadas e argolas de Viana, os brincos à raínha, os corações filigranados e os medalhões, as cruzes e os colares de "contas minhotas". Outras peças de maior aparato, como relicários, caixas, colares de gramalheiras, custódias ou esculturas ornamentais (caso da caravela), também são produzidas para satisfazer uma demanda cada vez mais alargada e que não se circunscreve apenas ao território nacional - recorrendo atualmente esta industria da filigrana, com alguma frequência, à prata dourada.
 

Constituindo-se como ornamento e símbolo de distinção social, a filigrana em ouro revelava-se ainda um investimento e uma mais-valia do agregado familiar. Os objetos da filigrana portuguesa são usados como ornamentos preciosos para ocasiões festivas especiais, quer por grupos sociais mais elevados, quer ainda por pessoas de menores recursos materiais, integrando e enriquecendo a tradicional indumentária dos portugueses do Minho e do Douro Litoral. 

filigrana. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2012. [Consult. 2012-04-04].
Disponível na www: <URL: http://www.infopedia.pt/$filigrana>.

 

Bordados de Castelo Branco

Perspectiva histórica do Bordado desde as suas remotas origens à actualidade:
De imensa beleza e exemplo de originalidade no âmbito de manufactura nacional, o Bordado de Castelo Branco apresenta dois factores dominantes: um, de origem artística; outro, de significaçăo económica. O primeiro manifesta a existência de uma arte própria, com estilo de feiçăo peculiar, o segundo admite a concentraçăo desta indústria de bordado na zona do Distrito de Castelo Branco.

Porquê nesta cidade? É natural que se tenha fixado precisamente numa regiăo onde a cultura do linho era tradicional e onde a amoreira se dava tăo bem, a ponto de permitir a criaçăo em larga escala do bicho-da-seda. Os locais de fabrico explicam em grande parte a matéria utilizada, visto as condiçőes naturais serem exploradas pelas comunidades.

Embora se desconheça a verdadeira origem do Bordado de Castelo Branco, o facto de, já no século XX, ter sido reactivada a sua produçăo em Castelo Branco é a razăo de denominaçăo actual, ainda que a grande maioria dos espécimes antigos recenseados tenham sido localizados na zona desta cidade.
De acordo com o figurino da época, crê-se ter sido o século XVIII o período mais fecundo na confecçăo do Bordado. Depois de uma fase de decadência que se fez sentir ao longo do século XIX, o seu ressurgimento deu-se na regiăo de Castelo Branco, no primeiro quartel do século XX, a partir do momento que Maria da Piedade Mendes (1888?-1984) encontrou um conjunto de colchas de linho bordadas a seda, guardadas religiosamente em arcas herdadas pela sua família, e que iriam servir de modelo para os trabalhos que desenvolveu ao longo da vida com uma perfeiçăo notável. No ano de 1929, ao participar na Sexta Sessăo do IV Congresso Beirăo, realizada em Castelo Branco, Maria Júlia Antunes, professora do Liceu Infanta D. Maria em Coimbra, apresentou a sua tese Rendas e Bordados das Beiras onde faz referência aos «bordados albicastrenses, genéricamente chamados a frouxo», pela primeira vez divulgados em público com a designaçăo que os associa à cidade beiră.

Constitui-se entăo uma marca, por escola, recriando e reformulando motivos de espécimes remanescentes, em defesa e continuidade de uma expressăo artística, reconhecida pela sua riqueza singular no deversificado panorama da produçăo têxtil nacional, através de um movimento de âmbito local. Surgiu a denomiçăo Bordados de Castelo Branco.



Antecedentes do Bordado de Castelo Branco e influências recebidas:


O facto da Península Ibérica ter estado sob domínio árabe levou a uma produçăo de têxteis e bordados que obedeciam aos cânones estéticos muçulmanos e se destinava aos circuitos comerciais do mundo árabe.
Seguiu-se um longo período de Reconquista pouco propício ao desenvolvimento da arte do bordado. O bordado português só tardiamente terá começado a afirmar-se de uma maneira válida, e factores imponderáveis dificultam a tomada de conhecimento do que teria sido na Idade Média. Sabe-se apenas que só a partir dos finais do século XVI se impőe uma produçăo têxtil de alta qualidade, mas em quantidade limitada.

Uma das consequências da expansăo política, religiosa e económica dos portugueses traduziu-se no intercâmbio de novas formas culturais e artísticas, e o olhar do português rapidamente descobriu a perícia e o virtuosismo das indígenas ao fazer as suas obras e da Índia passaram, também, a ser trazidas para Portugal bordadoras habilidosas que se juntavam aos colchoeiros (designaçăo dada aos fazedores de colchas no século XVI).
Segundo Afonso de Albuquerque vinham exercer a sua arte em Lisboa, sendo provável ter sido a capital do reino ponto de partida para a realizaçăo de trabalhos que depois se foram espalhando através de outras regiőes do País.

A partir dos finais do século XVI até aos finais do século XVIII, multiplicaram-se as encomendas de bordados, monocromos ou com uma policromia sábia, autênticos suportes de narraçőes, simbologias ou simples figuraçőes, prestigiantes para quem os possuía.
Os espécimes provenientes do Oriente eram na maioria bordados para suspensăo e colchas bordadas num suporte acolchoado, alguns decorados com faixas, onde se representavam cenas bíblicas ou heróicas, caçadas, motivos vegetalistas, entre outros, comuns na arte oriental.
Cumprindo um programa elaborado a partir de matrizes ocidentais, nos espaços em que a encomenda nada impunha as bordadoras inscreviam motivos e mitos, usando cercaduras, tarjas, fundos e cantos preenchidos com elementos geométricos, folhas, flores, enrolamentos, animais, figuras por vezes compósitas e personagens do mito local. Geralmente bordadas a seda sobre linho, eram também executadas em algodăo branco acolchoado.

Nos bordados feitos em Portugal acentuavam-se as sugestőes dos estilos do Ocidente. Todavia, um forte gosto orientalizante năo deixava de os inspirar ao nível da sua composiçăo e decoraçăo.
É natural que toda essa produçăo, de diversos centros, com diferentes cargas e estilos, tenha exercido uma forte influência no Bordado de Castelo Branco, particularmente em composiçőes mais elaboradas que a nível temático e compositivo relevam uma acentuada afinidade com o bordado indo-português.

Por factores inerentes à sua conservaçăo, pelo inusitado costume de datar os espécimes e devido à escassez de dados que o documentam, até hoje desconhece-se a origem do Bordado de Castelo Branco e as questőes multiplicam-se. Poderá ser considerado fundamentalmente um produto de uma indústria caseira, vocacionada para consumo próprio. Mas, nesta prespectiva, năo terăo existido centros de produçăo no sentido usual do termo?
Em Portugal, nos conventos femininos a arte de bordar adquiriu grande perfeiçăo, levando à possibilidade de terem sido centros difusores deste bordado, quer como locais de educaçăo, quer de produçăo.

Năo foram só as mulheres dedicadas à vida claustral a entregarem-se ao trabalho de bordar, outras havia que se dedicavam a essa tarefa. Poderá năo parecer que as primeiras peças fossem de sabor popular, perante a falta de argumentaçăo para acreditar terem sido as populaçőes rurais, ignorantes na sua simplicidade, a receber a mensagem do Oriente, contrariamente à ideia de que os modelos iniciais tivessem nascido no seio da classe das famílias opulentas, donde partiam para a Índia os homens que no regresso traziam presentes e recordaçőes que vieram alterar os hábitos de bordar.

Por outro lado, năo será de excluir supor terem sido as damas albicastrenses a apoderarem-se da matriz popular do Bordado, dando-lhe foros senhoriais, atendendo a determinadas características do desenho de peças mais antigas que parecem resultar de uma produçăo estabelecida entre as classes populares.
E porque năo , atribuir a origem a ambas as classes, de acordo com as possibilidades e recursos de cada uma delas?


In "O Bordado de Castelo Branco" 



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